Têm surgido algumas dúvidas sobre o tipo de narrativa que se pretende, neste novo desafio. Em vez de longas explicações, normas e regras a aplicar, vasculhei a biblioteca e encontrei três exemplos de estilos (e para leitores) diferentes mas que demonstram como se pode fazer um Guia de Viagem sem o parecer.
A visão de alguém que viveu muitos anos no local sobre o qual escreve:
“O flâneur passeia pelo gueto judeu do Marais, no quarto arrondissement. Aqui, não muito longe do Hotel de Ville (sede do município), há um pequeno rectângulo – (...)– onde o flâneur poderá encontrar lojas que vendem a Tora e os candelabro de Hanukkah, lojas e/ou restaurantes kosher, as ruínas daquela que foi uma estrutura destinada a banhos rituais e duas sinagogas. Uma delas é a Sinagoga Fleishman, minúscula e difícil de encontrar, na rue des Écouffes, e a outra é uma edifício elegante e mais fácil de localizar: a Sinagoga da rue Pavée. Foi construída entre 1910 e 1913, por iniciativa de judeus polacos chegados pouco tempo antes a Paris, e concebida por Hector Guimard, o exuberante arquitecto que criou as requintadas e emblemáticas entradas Art Nouveau do metro.”
“Paris, Os Passeios de um Flâneur”
Edmund White, Edições Asa, 2004
Colecção “O Escritor e a Cidade”
O Guia Histórico:
“Espalhou-se o mito de que toda a população de Londres encontrou abrigo no metropolitano durante o blitz. De facto, o número máximo de pessoas foi de 177 000, menos de 5 por cento da população servida por esse meio de transporte. Muitos preferiam arriscar os abrigos “Anderson” de chapa ondulada de aço e paredes de terra, no fundo dos jardins; mas apenas uma em cada quatro casas de Londres tinha jardim. Sessenta por cento ia simplesmente para a cama, o resto acocorava-se debaixo das escadas, em caves ou debaixo das mesas. A princípio o governo estava disposto a impedir que os habitantes de Londres utilizassem o metropolitano como refúgio (...) os habitantes de Londres contestaram a proibição (...) comprando bilhetes, adquirindo assim o estatuto legal de passageiros.”
“Londres”
Richard Thames, Publicações Europa-América, 2001
Colecção “Guia Histórico para Viajantes”
A versão romanceada (os protagonistas visitam um local acompanhados por alguém que lhes serve de cicerone):
“Como o Natal se aproximava, Frau Huber e Margrit estavam muito ocupadas a fazer Guezli – espécie de biscoitos muito importantes nessa quadra festiva -, e tanto Werner como João ajudaram a cortar alguns. Havia também os chamados Mailänderli, tostadinhos, dourados, em forma de corações, meias-luas e estrelas (...) Alguns dos pratos João ainda os não conhecia; como um tubérculo branco chamado rábano e Sauerkraut, espécie de hortaliça de conserva servida quente, e ainda o Blut und Leberwürste quente (chouriço de fígado e sangue) e que se come acompanhado de batatas cozidas e maçãs assadas.”
Viajando na Suíça
Mariann Meier, Livraria Civilização, 1963
Colecção "Viajando"
Mais exemplos haveriam e, se for necessário, poderei indicar mais alguns.
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